quinta-feira, 25 de outubro de 2012

ELEGIA AO POVO GUARANI:O suicida não quer se matar - quer matar a sua dor.- Delasnieve Daspet



O suicida não quer se matar - quer matar a sua dor.
    - Elegia ao Povo Guarani  -
                        Delasnieve Daspet

Trago, hoje, meu canto triste, doloroso, de luto, de mágoa,
Num sentimento que me corta a alma...
Nênias para quem não entendeu que não existem mais fronteiras,
que tudo acontece numa fração de segundo e reverbera por todo o universo.
Uma grande máquina, desumana, caminha entre os homens,
mata os indefesos de fome, de frio, de falta de dignidade,
de vergonha, por usurpação de direitos.
Ao contemplar a realidade vemos que a eternidade
é apenas uma palavra obscura...
E o Guarani-Kaiowa agoniza,
Sangra, e entrega seu sangue pela terra!
Quantos assassinatos cometemos em nome da justiça?
Porque cada índio que morre deixa em nossas mãos
o sangue de seu cruel e covarde assassinato!
 “Decretem nossa extinção e nos enterrem aqui”
Brada o bravo guerreiro guarani-kaiowa,
ainda dentro de sua terra usurpada e ocupada
Um processo de invasão
Num longo caminho de opressão
Para não se reconhecer o direito coletivo
Do povo indígena.
 “Pedimos ao Governo e à Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/
expulsão, mas decretar nossa morte coletiva e enterrar nós todos aqui.
Pedimos, de uma vez por todas, para decretar nossa extinção
dizimação total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco
para jogar e enterrar nossos corpos. Este é o nosso pedido aos juízes federais”
O direito à vida não pode se
Subordinar ao direito  da propriedade,
A vitima fatal quase sempre é o índio,
Morte consentida!
Recuso-me a ser cúmplice deste genocídio...
Os índios e os brancos são iguais  em muitas maneiras,
Foi um só criador que fez todos os humanos,
Bebem  das mesmas águas, corpo e espírito dos
Mesmos oceanos!
Recuso-me a ser cúmplice de mais este assassinato...
Se somos diferentes,  diferentes, também,  são os
Pássaros em suas cores, nos seus cantos, nos seus modos.
Somos distintos  - temos as nossas  línguas, nossos sonhos,
Nossas cores e compressão diferente...
Recuso-me a compactuar com esta violência...
Os índios preservaram e nos entregaram a nós e aos
 nossos filhos a herança da criação.
Ocupamos a sua  terra mãe.
Terra que eles cuidaram  ciclos após ciclos...
E que agora, afirmam "Não terem  e nem terão  perspectiva de vida digna
e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui”
Antes que tudo desapareça da face da terra
vamos  parar e ouvir o canto da criação
com a mente  e o coração...
Como podemos entender o desespero de uma decisão de morte coletiva?
Como  aceitar que alguém vai morrer por ação ou omissão nossa?
Parem. Pensem. Cheirem este ar puro que ainda resta... ouçam as montanhas ela chora de dor,
Ouçam os rios – suas lágrimas morrem  nas ranhaduras da terra seca...
ouça o gemido da árvore que se contorce no fogo e na serra...
Ouçam... o espírito da terra esta coberto de cicatrizes e clama pela prudência do homem...
Sintam a mãe terra e pensem um pouco nestes irmãos diferentes...
Pensem nos quantos que já desapareceram para sempre...
Vamos reconhecer esses irmãos que chamam a sabedoria milenar de sua gente
E nos respondem  a cada violência com prudência e um pedido de paz...
Enquanto o Guarani-Kaiowá agoniza, seu corpo, seu sangue,  sua sina
de extermínio silencioso, numa  desvalia extrema, a
auto-imolação é a última forma de ainda sobreviver.
Pensem, sintam... todos nós olhamos o mesmo céu,
o mesmo sol,  a mesma lua e  compartilhamos as cores dos  quatro ventos
Não podemos condená-los a  vagar e vagar sem rumo e sem destino...
Estamos falando de gente, o que houve - o que há com a Constituição Cidadã?
Lembremos  que já andamos por todos os lugares, por todos os caminhos,
O  horizonte sempre se esconde na terra, e,
O suicida não quer se matar - quer matar a sua dor,
Pachamama  está encharcada com o sangue guarani.
 “Co ivi oguereco iara" - "Esta terra tem dono!”
Assim falou nhanderu Nísio Gomes, agora,
 vento que anda pelas trilhas deixadas pela ausência...
DD_DelasnieveDaspet - Campo Grande – MS – 25.10.12*Delasnieve Daspet - advogada e ativista das causas da Paz, Sociais, Humanas, Ambientais e Culturais, Conselheira Estadual de Cultura,
Embaixadora Universal da Paz, preside a Associação Internacional Poetas Del Mundo, e,
é Poeta, essencialmente

Um comentário:


  1. ----- Original Message -----
    From: Marilia faria Saturday, October 27, 2012 7:51 PMSubject: "O suícida não quer se matar - quer matar a sua dor "-

    .
    Quando alguém deseja matar sua dor se matando,
    Morremos um pouco com ele, por omissão, opressão,desamor...
    Por que não aprendemos jamais que a terra pertence a todos?
    Que caixão não tem gaveta ou cofre, que somos finitos?
    Dói fundo em nosso inconsciente a ganância impiedosa dos nossos colonizadores!
    Fomos marcados por nossa cultura tão nova, nós, americanos, pelo desejo de assassinar,
    "Santa Inquisição", em nome do do Criador, raças indígenas inocentes, "abençoados" pela Cruz!
    Empapado nosso solo pelo sangue deles, nossa culpa eterna, não nos perdoamos e matamos mais...
    E a crise pessoal e terrível, transformada em coletiva, fere com ferro em brasa, nossos filhos e próximas gerações,
    Transformada em "crack", violência, guerras, ditaduras, armas nucleares, fome, "políticos", políticas, "economias"!
    E a Natureza devastada pela Enorme Dor,anda a dar respostas que passam despercebidas aos olhos cegos de todos nós!

    -Marília Bechara

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